quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"A"

Antes de nascer o dia, barulho de folhas.
Folhas secas de outono, folhas de caderno.
Entreabri os olhos e a vi sentada ao pé da cama, ainda nua, como se acabasse de sair do banho.
Chovera toda a noite. Lá fora, água. No quarto, beijos.
Ela fechou a cortina e eu, os olhos.
Ela vestia a roupa tão rápido quanto eu minhas fantasias.
Nelas, como se escrevesse em nuvens, escrevia em suas coxas - tão macias quanto.
Um batom era a caneta. Vermelho, sempre.
E ao final, folhas e corpos riscados, fazia o desenho de um A. "Com Amor", terminava.
"A", o começo do alfabeto e o fim da carta, o fim da noite, o fim da chuva - aqui dentro e lá fora. Ela abria a cortina, eu não abria os olhos, e ela partia.
A cada segunda-feira, enquanto eu ouvia o barulho das folhas, ela escrevia.