quarta-feira, 12 de novembro de 2008

"A"

Antes de nascer o dia, barulho de folhas.
Folhas secas de outono, folhas de caderno.
Entreabri os olhos e a vi sentada ao pé da cama, ainda nua, como se acabasse de sair do banho.
Chovera toda a noite. Lá fora, água. No quarto, beijos.
Ela fechou a cortina e eu, os olhos.
Ela vestia a roupa tão rápido quanto eu minhas fantasias.
Nelas, como se escrevesse em nuvens, escrevia em suas coxas - tão macias quanto.
Um batom era a caneta. Vermelho, sempre.
E ao final, folhas e corpos riscados, fazia o desenho de um A. "Com Amor", terminava.
"A", o começo do alfabeto e o fim da carta, o fim da noite, o fim da chuva - aqui dentro e lá fora. Ela abria a cortina, eu não abria os olhos, e ela partia.
A cada segunda-feira, enquanto eu ouvia o barulho das folhas, ela escrevia.

sábado, 20 de setembro de 2008

Egoísmo

Tudo o que eu quero é cada ponto e cada pinta do teu corpo, cada gota do teu suor, cada pelo do teu sexo.
Quero você na minha cama, minha mesa, meu sofá e em cada degrau da escada.
E quero você no meio da rua, no taxi, no ponto de ônibus, nas salas de reunião, em cada banheiro de bar e cada garagem.
Te beijar o rosto, o pescoço, pernas e barriga. Quero teu peito, tuas costas, teus ombros e braços. Tuas mãos, tua nuca, tua boca.
Quero não saber se a língua é tua ou minha. Quero um dedo, dois dedos, e a língua.
Quero mandar e obedecer, puxar teus cabelos, morder. Te ter antes de dormir e quando acordar e te acordar no meio da noite com minha boca entre tuas pernas, teu gosto na minha boca, teu cheiro na minha roupa, na minha cama. No meu sexo, tua língua.
Quero o tempo todo pra ter você toda, só pra mim.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Concurso

Já estava nervosa por ser seu primeiro concurso público e, não bastasse isso, chegou em cima da hora. Subiu as escadas correndo em direção ao banheiro e encontrou uma fila enorme e uma garota bonita que chegou em seguida. Aliás, era bonita demais para esperar, então cedeu seu lugar.
Ao sair, como se estivessem à sós, a garota a abraçou e beijou na boca. Assustou-se mas, depois, era como se ninguém ao lado existisse ou estivesse fazendo barulho ou ameaçando vomitar sobre elas. Logo saíram como se nada tivesse acontecido ali.
Quando terminou a prova e pôs a mão no bolso em busca de algum trocado, não encontrou nada além de um bilhete com a letra B e o número 1512.
À noite, quando chegou em casa, procurou na lista telefônica todos os números possíveis e encaixou com o final 1512. Todas as tentativas foram vãs, mas tem esperança de descobrir quem é a garota bonita daqui alguns dias, na lista dos aprovados.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A mão que mês passado eu passei na sua bunda, anteontem estava em seus cabelos e hoje esteve em seu rosto.
O que era desejo virou paixão e, depois, raiva.
Se são opostos e o carinho virou agressão, por que é que você não acredita que já fui homem?
Tudo muda, você sabe, é inevitável.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

De olhos fechados sorria
Recusava-se a abri-los
Temia perdê-la

Respirava fundo
Sentia o cheiro da pele
Do suor e do sexo

Tremeu ao ouvir as sirenes
Inspirou
Expirou

Ao criar coragem e abrir os olhos
Tarde demais
Já haviam levado o corpo ao IML

domingo, 27 de abril de 2008

Ainda ontem eu conheci uma menina muito atraente.
Logo que pus os olhos nela, o desejo tomou conta de mim.
Quis sussurrar em seus ouvidos, beijar sua mão, sua testa, morder sua boca e arranhar suas costas.
Mas já eram seis horas, então o despertador tocou.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Sal no café.
Biquini na nevasca.
Cavalo à gasolina.
Escreveu com borracha e apagou com lápis.
Rímel nos lábios, esmalte nos olhos e batom nas unhas.
Luva nos pés.
Pênis na vagina.

terça-feira, 18 de março de 2008

Os ponteiros marcavam onze da noite de quarta-feira quando atravessava uma rua escura da cidade.
Morena de olhos claros, muito atraente, chamava atenção por onde passasse.
Naquela noite, voltando para casa, ouviu passos. Com o canto dos olhos espiou atrás de si. Viu um vulto e não apressou o passo.
Respirava ofegante, o olhar longe, como se lembrasse de outras épocas, da infância, das bonecas.
O medo tomou conta dela, as mãos suavam.
Então sentiu alguém encostar em seu ombro. Como não virou para trás, foi cutucada ourta vez. Respirou fundo, parou e virou.
Viu um homem alto, magérrimo e de dentes tortos.
Olharam-se em silêncio alguns segundos. Ele, os olhos dela. Ela, lugar vago, esperando que lhe fizesse algo.
-Tem fogo?
-Não.
-Já passam de onze?
-Talvez. - disse ela boquiaberta.
Ele seguiu viagem e ela ficou parada ainda alguns instantes, decepcionada.
Já a algum tempo não tinha um encontro que a deixasse excitada.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Por culpa da esposa

Na internet, buscou uma prostituta que lhe agradasse. Não foi difícil, tinha apenas uma exigência: que não estivesse depilada.
Contratou uma e levou para casa. Nesta noite a esposa, que insistia em depilar-se, foi trancada no quarto de hóspedes e a puta, levada para o quarto do casal.
Junto ao vinho, na taça da meretriz, pôs um sonífero. Assim que fez efeito, despiu-a e virou-a de frente para si, na cama.
Abriu a caixinha que estava no criado-mudo e, cuidadosamente, tirou de lá uma pinça.
Um a um arrancou os pelos da contratada.
Foi a noite mais excitante da sua vida.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Sobre viver?
Sobreviver.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Boa viagem

Resolveu viajar e convidou o marido, que disse que só iria se fosse para os EUA. Ela quis o Canadá, e foi sozinha, e achou até melhor.
No aeroporto, a mocinha sorridente da sala de espera oferecia "café ou o que mais precisassem" os passageiros. Pediu que a mocinha mostrasse o caminho do banheiro. Fingiu passar mal para que fosse acompanhada até os sanitários. Recuperou-se com tal rapidez que traçou a mocinha prestativa num piscar de olhos...tão bonitinha naquela camisa branca, alguns botões abertos deixando à mostra parte do sutiã rendado.
Durante o vôo seguiu um rapaz muito atraente até o banheiro e, mais uma vez, com rapidez admirável, traçou o jovem turista coreano.
Após a última escala, foi até a área reservada à tripulação conversar com a aeromoça, uma mulher lá pela casa dos trinta, alta e loira e com um quadril generoso...aliás, foi pelo quadril que puxou a aeromoça para si fazendo sentir seus seios nos dela, a mão deslizando para debaixo da saia. Depois de transarem, a aeromoça saiu correndo chorando, mas ela nem prestou atenção.
Desembarcando na capital Ottawa chamou um taxi. Pensou em transar com o taxista mas estava com sono, então pediu um cartão dele e resolveu deixar para a volta.
No hotel, assim que chegou, chamou uma camareira e pediu que em seu horário de folga comprasse diversos postais dos pontos turísticos mais interessantes da região e contratasse um guia. Pagaria separado por este serviço.
Como a camareira não trabalharia naquele fim de semana, levou os postais e o guia até o hotel na mesma noite.
Entrou no quarto e, claro, foi agarrada pela hóspede. Explicou que não fazia esse tipo de serviço mas poderia recomendar quem o fizesse, mas mudou de idéia assim que viu a grana.
Seria o dobro se gostasse do guia.
Acabou por pagar o triplo, afinal uma guia sempre é mais cara.
Passou o fim de semana trancada no quarto transando hora com uma, hora com outra e hora com as duas, enquanto a guia comentava os postais.
Com certeza foi uma viagem muito proveitosa e interessante. Traçou cada pessoa que teve oportunidade, assim na ida como na volta, inclusive o taxista mexicano gorducho.
Não poupou ninguém, apenas o marido foi poupado da AIDS.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Um mês

Quase um mês e esperava todo fim de tarde.
Esperava que ele chamasse, desse uma flor, um sorriso e declamasse besteiras ao pé do ouvido.
Que dissesse que sentia falta do gosto da pele e do mau gosto musical.
Esperava um mês, apenas um mês e nem um dia a mais.
A cada trinta dias recomeçava a contagem.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Dois

Ele exercia atração sobre ela e ela nem sabia porquê.
Na verdade, ela nem gostava de homens e não entendia o porque do desejo aparecer logo na primeira vez que o viu.
Não podia ser apenas uma maldita banda, uma mania ou duas em comum.
Se fosse o fato de ser casado, poderia ser outro.
Se fosse o fato de ser mais velho, poderia ser outro também.
Seriam muitos, cada dia mais e mais.
Já não sabia mais a quanto tempo o conhecia, uns seis ou oito meses talvez.
Se o via com freqüência, queria mais; se não o via, ele aparecia em seus sonhos, alternados com sonhos de lindas mulheres, e aí ela sentia necessidade de vê-lo.
Algumas vezes pensou em trocá-lo por um par de peitos, mas o cheiro dele acalmava e excitava, estar perto dele fazia bem. Moralmente errado mas não causava arrependimentos.
Depois de algum tempo descobriu o que ele tinha e os outros não...quando o procurava, queria ouvidos e não apenas um pênis.
E ele tinha ouvidos. Dois, aliás.

necessidade

nessa cidade
necessidade
de trepar
Não sabe se as lembranças da voz, do sorriso e do cheiro (dele) habitam seu coração, sua mente ou sua vagina.

Não mais

Cada vez que tinha um orgasmo, o coração batia tão rápido que pensava que ia infartar.
Um dia não mais pensou assim, infartou.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Ela roía as unhas mas um dia deixou que crescessem só pra poder rasgar por dentro a própria mulher quando lá metesse as mãos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Percurso

Imagino minhas mãos percorrendo estradas imaginárias em você. Meus lábios insistem em segui-las. Sigo por desvios, atalhos e caminhos desconhecidos. Onde vamos parar?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Sintomas

Olhos turvos, fala lenta, mente vaga.
Tudo depois de um beijo teu.

Água

Água, suor, lágrimas.
A boca seca.
As unhas nas costas dele.
Gemidos. De dor, de prazer.
Soluços, beijos, mordidas.
Respiração ofegante.
Olha nos olhos dela.
A expressão de pesar misturada à de satisfação.
Menina com traços de mulher, ou o contrário.
A boca ainda seca.
A dor, o riso, o gozo.
Tudo se mistura e explode em um só gemido,
um grito,
um tapa.
Lágrimas, mordidas, suor, água.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Deusa

Boca cor de céu, bochechas encaracoladas, olhos sabor pitanga e cabeleira rosada e de aparência saudável.
Alta como o perfume dos lírios e com cheiro de três andares.
Ao andar, flutuava elegante como um caminhão em rodovia esburacada.
Certamente era uma deusa. E só eu tive o privilégio de vê-la antes de ser reduzida a chiclete em sola de sapato.

Perda

E então corri para o espelho a tempo de olhar em meus olhos pela última vez antes de me perder de mim.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Na primeira noite os braços eram tentáculos e eu, embora voluntariamente, o animal pequeno e indefeso sendo devorado.
Não que tenha virado pra ela e dito "ah, me come, vai...acabei de sair do banho, tô limpinha, uma delícia" mas não nego que quis.
E nem tão indefesa também, afinal, a noite foi quase que planejada.
Me tateando, me apalpando, me rasgando; os tentáculos e a língua - que não deixava de ser um ágil tentáculo - a me devorar por debaixo dos lençóis já úmidos de suor e de sexo.

Oito ou oitenta

Era uma sexta feira, mas não como outra qualquer. Eram sete da noite e voltava do trabalho. Pela primeira vez trabalhara uma hora e meia a mais espontâneamente.
E pela primeira vez chegaria em casa e encontraria silêncio completo. Nada do barulho do chuveiro pingando, o cheiro do sabonete, da roupa limpa, do café sendo passado e os cabelos no chão de azulejos brancos.
Põe a chave na fechadura. Respira fundo. Abre a porta. Joga-se no sofá de couro preto e tira os sapatos. Vê os móveis vermelhos e a decoração de zebra que contrasta com a máquina de escrever e o toca-discos.
Abre os olhos. São onze horas! Havia dormido ou passou a noite pensando em não pensar?
Vai para o banho lembrando que a novela acabava às dez e os documentários iniciavam quinze minutos antes; sempre perdia o início. Não que não pudesse entender se não visse a introdução, mas preferia vê-la ou não ver nada do programa.
Era oito ou oitenta! Ou se bebe whisky puro ou se toma água. Ou sapatos de salto ou andava descalça. Ah! Sempre fora assim...tudo a seu jeito ou que caíssem fora.
Fuma deitada nua no sofá e, acariciando os seios rijos, lembra-se da última noite. Chegou em casa com vontade de trepar na varanda. Enquanto se despia, mandou que a mulher fosse ageitando tudo.
- Na varanda?! Nem pensar, os vizinhos podem ver!
- Que vejam...e morram de inveja! - sorriu maliciosa.
- Sempre faço o que pede, mas já está passando dos limites...não vou!
- Não vai, é?!
Jogou-a no tapete e fizeram sexo. Depois, levantou e foi para o quarto, de onde voltou com uma sacola que jogou perto da porta.
- Que é isso? - pediu a mulher, ainda no tapete.
- Tuas coisas. Tens dez minutos pra sumir daqui, vagabunda!
- Só pode estar brincando comigo. Que tara nova é essa?
- Tenho cara de quem está brincando? Sai daqui já! Primeiro que cansei de ti e segundo que eu queria trepar na varanda.
- Só por isso?
- É.
Continua a acariciar os seios. Pensa que devia ter fodido mais uma vez no banho...ah! como era gostosa aquela guria; as pernas bem torneadas, a bundinha empinada e os seios...ah! os seios!!
Arrepiou-se e arrependeu-se, mas só por instantes breves em que acariciava a própria buceta. No silêncio do apartamento masturbou-se, gemeu e gozou. Pegou o telefone e ligou para o disque-sexo. Já disse, era oito ou oitenta!